quarta-feira, janeiro 17, 2007

12

Doze anos que se passaram, e como tudo continuou?
Doze anos que passaram e quanto o mundo mudou?
Doze anos que passaram e o menino torna-se homem,
Doze anos que passaram e sei tanto como ontem.

Doze vezes 365, pouco mais a acrescentar,
É o tempo que não te tenho e continua a contar.
Doze passas, que não como,
Doze anos onde apenas sonho,
Um acto sem retorno,
Doze em dezasseis, um acordar tristonho.

Como há tempos fiz com o três,
Hoje concentrei-me no doze,
Um motivo mais sério, outro mais cortês,
Mas uma certa mágoa em ambos notou-se.

Não choro pelos cantos, não ha espaço para tal,
Faço-o em silêncio num choro espiritual,
Sinto falta de algo, mas como posso sentir falta do que não me lembro de ter?
Doze anos já lá foram, mas quando dou por mim estou a sofrer...

Não me custa falar do assunto, doze em dezasseis dá três em quatro,
E a matemática confirma que o tempo não perdoa,
E que qualquer exuberância, não seja visto como mais do que teatro,
Embora a décima segunda parte de minha alma tornou-se completa e teu nome ecoa...

Já vou em seis versos, vou avançar 6 anos no tempo,
Idade muito feliz, que de longe saudosamente contemplo,
Primeiro contacto digno desse nome, curiosidade de menino,
Em vez do doze, era o seis, número mais pequenino.

A minha curta existência já ia em mais de metade,
Mas como anteriormente disse, desses tempos só resta a saudade.
E uma ou outra recordação, de ti não posso dizer o mesmo,
Doze para mim é muito tempo, quando para outros um eufemismo.

Uma palavra que nunca sairá da minha boca,
Pelo menos com sinceridade,
Há quem diga que é coisa pouca,
Mas doze para mim é uma eternidade.

Se te visse agora, teria uma questão,
Vendo o estado a que chegou aquele a que chamaste teu chão,
Como sofre aquele povo que chora e sonha em vão,
Diz-me, 12 perdeste, muitos mais virão,
Valeu apena então?

Os olhos espelham a alma, e a minha transborda emoção,
Uma fugitiva ao canto do olho faz-me recuperar a razão,
Mas boa ou má, é uma data especial, e hoje dou um desconto,
Faltam quatro minutos, multiplicando por três chegamos ao doze, pronto.

Tic Tac, Tic Tac, esvazia-se a ampulheta.
Dos grãos que me escorreram entre os dedos perdi a conta certa.
Sinto um vazio com a tua forma, e sem ele o que me completa?
Talvez esta herança que me deste, o escrever como um poeta.

Do um ao doze, lentamente fui chegando,
Escrevendo, sentindo e me emocionando,
12 horas da noite, o ciclo foi fechado,
12 anos, conta certa, teu espírito foi reclamado.

sábado, janeiro 06, 2007

Brincando

Muitos poetas adoram brincar com as palavras,
Molda-las à sua imagem, torná-las suas escravas,
Ou pelo menos é o que pensam, o que dizem e o que acham,
Mas quanto mais o fazem, mais da realidade se afastam,
Pois na minha opinião, o que acontece é o contrário,
Elas são eternas, cada poeta temporário,
Como posso brincar com quem me torna dependente?
Como posso moldar aquilo que me preenche cá por dentro?
Muito tempo sem escrever, e entro em ressaca,
Muito tempo sem inspiração e a necessidade logo ataca,
Elas brincam connosco a seu bel-prazer,
Quando começamos a escrever,
Apenas estamos a obedecer,
Elas são sempre as mesmas, pouco ou nada mudam,
E nós sempre viciados, obtemos força escrevendo uma a uma,
Oh triste sina de todos os poetas! Os mensageiros do coração!
Uma existência reduzida a satisfazer caprichos de uma arrebatadora paixão!
E assim tem sido ao longo dos tempos,
O que pensamos ser nosso, dura breves momentos,
E passa a ser de outro, mal nos vamos, morremos,
A maneira como satisfazemos este vício divinal,
Diferencia um grande poeta de um escritor banal,
Tornando-nos instantâneos ou em algo intemporal.
Aí sim, podemos dizer que brincamos com elas,
Dando-lhes a volta juntamo-nos a essas entidades tão belas,
Alguém que muitos admiraram,
Uma vida como mais não,
Um exemplo para os que virão,
Saudade para os que ficaram.