sexta-feira, dezembro 25, 2009

O Velho do Restelo

Sentado do alto do seu rochedo,
entre um e outro mau augúrio,
vai sentado o Velho do Restelo,
contra tudo e contra todos.

Se as coisas não estão como ele quer, sobe-lhe a ira, amaldiçoa-te até à quinta geração:
"É uma falta de respeito! Eu falo, mas ninguém me liga, não!"
Amaldiçoa-te com uma ira, a qual tu nem percebes de onde veio; sobe-lhe o tom, enrola-lhe a língua, e o imperceptível torna-se impossível.
Obriga-te a um esforço hediondo, hercúleo, quase heróico! Apenas para perceberes que estás a
ser "xingado".
Por outro lado, se tudo está perfeito, é porque não está bem no sítio, um milímetro para a esquerda, um milímetro para direita: "Pronto, agora sim!"- E lá fica contente e pode partir para a próxima injúria.
O Velho do Restelo é uma personagem trágico-cómica. Adora contar histórias, mas quando toca a encarar a sua História, reage com um sorriso de menino, ou chora como se de um bebé se tratasse.
Tem um sorriso bem malandro, o diabo do velho é tramado! É tão tramado, que se lixa a ele próprio, a rocha onde amaldiçoava as naus que partiam, tornou-se primeiro no seu castelo, apenas a tempo de descobrir que se tratava de uma prisão.
O tribunal que o condenou, foi fechado e encerrado, levou-lhe um membro como castigo, de um crime que só posso adivinhar hediondo. E agora os marinheiros amaldiçoados tornaram-se no seu porto de socorro, qual benesse divina, para atenuar o seu castigo.
O lúcido Velho do Restelo, aprisionado na sua rocha, através de uma tela vê o mundo, através dos seus marinheiros, nele toca.
O seu coração é mais novo que ele, vaso ruim não quebra, há quem diga! O que é certo é que ele aqui anda, amaldiçoando melhor do que nunca, refilando com tudo e contra todos.

Corpo de velho, mente de malandro, sorriso de criança,
Assim bate o coração do Velho. bate e nunca se cansa.