sábado, janeiro 10, 2009

Cão

Um dia alguém escreveu que nos iríamos cruzar.

A mão do destino fez-te chegar à minha imberbe mão,
o choro miudinho, pedia tua presença junto da minha, desde então;
De uma advogada, fizeste cirurgião,
O teu desgaste sinal da nossa união.

Dormimos na rua, viajámos por entre tempestades,
sonhámos juntos, contigo cresci, a minha primeira amizade.

Teu olhar vago, branco, sem destino,
o teu toque, meu porto seguro,
o teu aroma, recordações em estado puro
do tempo em que o tempo para mim não contava,
do tempo em que eu tinha todo o tempo do mundo,
o tempo que tão rápido passou, ano a ano, segundo a segundo.

Um dia alguém escreveu que nos iríamos cruzar.

o que esse alguém não previu, é que não nos iríamos separar,
unha e carne, músculo e osso, eu e tu,
meu fiel amigo sem nome, agora no teu merecido retiro,
cada riso, cada brincadeira,
o primeiro suspiro, o primeiro passo, o primeiro amor,
a minha História começa contigo, e assim sempre será,
Num armário, na cama junto de mim, onde eu estou, tu estás.

Um dia alguém escreveu que nos iríamos cruzar.

E só por isso merecia o Nobel da literatura,
um Pullitzer pela obra-prima que escreveu,
páginas e páginas de ternura,
a operação de construção do meu Eu,
foi assim que tudo começou, e muito me apraz,
o cão e o bébé, o cão e o menino, o cão e o rapaz.

Um dia alguém escreveu que nos iríamos cruzar.