terça-feira, março 09, 2010

Atlas

Experiência de muitos,
cabeça de poucos,
Corpo jovem,
mente cansada.
Braços delgados,
o mundo nos ombros.

Assim que me sinto,
é aqui que me encontro.
Como pesa este globo,
e eu de baixo só assisto.

A humanidade prossegue o seu caminho,
o tempo passa por mim,
manda um sorriso de esguelha,
não tenho tempo para o apreciar...
estou ocupado com uma cãibra no braço.

Os olhos fecham, o peito grita,
as têmporas rebentam,
a alma chora.

O mundo, esse?
permanece inabalável,
na sua imutabilidade transformável.

segue a sua rota,
e eu é que tramo.

braços delgados,
mente pesada,
o mundo nos ombros.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Metadona

As minhas veias sabem que não és o mesmo,
O coração quando te bombeia, ri-se da minha tentativa,
Não tripo nem metade, o efeito não é o mesmo,
O sabor é diferente, quando o que queria era o costume,
Noites como esta, em que a ressaca está bem activa,
Não te dão hipótese, o meu corpo sabe que não és o mesmo.

Trémulas mãos, mente toldada, corpo em sofrimento,
Sintomas de algo,
algo que já não aguento.

A cabeça mata-me, o peito está pesado,
a dose é de cavalo,
alivia-me um bocado.

O teu efeito é efémero,
adia o inevitável,
amplia o insuportável,
torna-a intangível,
e vai-me deixando perecível.

O que eu não dava por uma boa dose,
da verdadeira, da pura,
da primeira merda que me tire desta sobriedade,
cheiro, fumo, inalo, faço o que for preciso
tirem-me deste mundo, tirem-me desta cidade!
Levem-me para longe, inferno ou paraíso,
levem-me daqui!

Aqui a tentação é sufocante,
provocante, e incontrolável ,
Sinto-me enfraquecer,
quando tento não ceder.

Tirem-de daqui!
Tirem!
Que sozinho não sou capaz.

Levem-me para longe!
Levem-me daqui!

Não aguento nem mais um segundo.
Por favor

Tirem-me de mim.

domingo, janeiro 03, 2010

Sangria

Estancado o corte que me enfraquecia,
É necessário outro condimento
para essa sangria.

A infecciosa lâmina que me feriu,
perfurou-me,
cortou-me,
(nada que eu não soubesse)
estripou-me,
esventrou-me
sangrou-me
(nada que não previsse)
marcou-me
feriu-me
(são coisas que acontecem)
por dentro,
por fora,
doeu!
(por esta é que eu não esperava)

Libertei-me do casulo,
Interrompeu-se a sentença,
Levantou-se o castigo,
Amainou a tempestade, voltou num recuo,
Quem existe, pensa,
E o pensamento não é amigo.

Sem amarras, sorri,
Fiz sorrir, descobri,
Planeei, já previ,
Quando pensei entristeci.

Por isso sigo, não penso,
aqui o digo por extenso.
Sem raciocínio, sem nada,
sou alma livre, libertada.

Se sou livre, ou estou livre,
só o tempo o dirá.
De momento...
Estou livre!
Será que o quero ser?

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Boas Festas

"No dia em que for invadido pela felicidade, morrerei de tédio..."

O Velho do Restelo

Sentado do alto do seu rochedo,
entre um e outro mau augúrio,
vai sentado o Velho do Restelo,
contra tudo e contra todos.

Se as coisas não estão como ele quer, sobe-lhe a ira, amaldiçoa-te até à quinta geração:
"É uma falta de respeito! Eu falo, mas ninguém me liga, não!"
Amaldiçoa-te com uma ira, a qual tu nem percebes de onde veio; sobe-lhe o tom, enrola-lhe a língua, e o imperceptível torna-se impossível.
Obriga-te a um esforço hediondo, hercúleo, quase heróico! Apenas para perceberes que estás a
ser "xingado".
Por outro lado, se tudo está perfeito, é porque não está bem no sítio, um milímetro para a esquerda, um milímetro para direita: "Pronto, agora sim!"- E lá fica contente e pode partir para a próxima injúria.
O Velho do Restelo é uma personagem trágico-cómica. Adora contar histórias, mas quando toca a encarar a sua História, reage com um sorriso de menino, ou chora como se de um bebé se tratasse.
Tem um sorriso bem malandro, o diabo do velho é tramado! É tão tramado, que se lixa a ele próprio, a rocha onde amaldiçoava as naus que partiam, tornou-se primeiro no seu castelo, apenas a tempo de descobrir que se tratava de uma prisão.
O tribunal que o condenou, foi fechado e encerrado, levou-lhe um membro como castigo, de um crime que só posso adivinhar hediondo. E agora os marinheiros amaldiçoados tornaram-se no seu porto de socorro, qual benesse divina, para atenuar o seu castigo.
O lúcido Velho do Restelo, aprisionado na sua rocha, através de uma tela vê o mundo, através dos seus marinheiros, nele toca.
O seu coração é mais novo que ele, vaso ruim não quebra, há quem diga! O que é certo é que ele aqui anda, amaldiçoando melhor do que nunca, refilando com tudo e contra todos.

Corpo de velho, mente de malandro, sorriso de criança,
Assim bate o coração do Velho. bate e nunca se cansa.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

sshh!

O teu mais ténue sussurro,
ensurdece-me os meus ouvidos.

A mais pura palavra proferida,
trespassa-me de um lado ao outro,
a fera jaz ferida.

O orgulho, oh companheiro de tantas aventuras!
Foi apanhado numa emboscada,
levou uma tareia, e a culpa é tua!

Alias a culpa é minha,
quem procura acha.
Já estava avisado,
ainda assim abri-te uma brecha.

Shiu!
Agora ouves, mantém-te calada,
Já te ouvi, respeitei, agora agradeço que não digas nada.

Nada quero mais ouvir,
nada quero que me dês,
nada podes esperar de mim,
nada quero saber de ti.
Nada quero.
Não quero nada





terça-feira, dezembro 15, 2009

Já me ia esquecendo!

Ia sendo, mas não "fondo"
lá me safei de cometer um erro redondo.
Não é que já me ia esquecendo?
Como se pouco me ralando,
diria mesmo, me cagando,
estivesse para o que se estava sucedendo.
Ai moço! Que já te ias esquecendo.
Não esquecendo, mas lembrando,
dei um pouco de gás ao lume, que ia brando;
peguei no perfume, que fui cheirando,
mostrei-lhe a nata, que havia provado.
Soube-lhe a certeza, e certamente me fui inchando
pois até foi melhor do que o esperado;
não sei se existes, mas obrigado!

De um dia, vieram semanas,
de cada semana o que virá não sei.
Um instante do tamanho do lusco-fusco
e parece que na barriga tenho o rei.
Telepatia? É um facto que é um mito,
ou é um mito que veio de um facto?
Sinto-a etérea, é o meu novo aroma,
aguçou-me os sentidos, agradece-te o tacto.
Sincronizou o anacrónico,
o mal inicial, o mal estar crónico.
Dissolveu azeite em água, e o irónico,
é que nenhum deles se apercebeu;
mas se separados estão bem,
é porque juntos de facto estão.
Nenhum deles reconheceu,
ainda pensam que enganam alguém!
Mas já não é brinquedo não!
E isso, não escapa a ninguém.

Iguais como a luz e a sombra,
Parecidos como o bem e o mal.
Onde um está, o outro está,
Onde um vai, o outro já foi.

Entretêm-se a riscar calendários,
dia a dia, no alto da sua inocência.
O futuro mete medo, mas não assusta
pois, onde um vai, o outro já foi.

terça-feira, dezembro 08, 2009

F...

Foda-se!!

O mar arrastou-me a âncora,
e o barco agora anda a deriva.

Fico puto com esta cena,
sinto-o como uma falta de respeito.

Deturpado o tabuleiro,
do xadrez passei para um monopólio,
retiraram-me a rainha, e esqueceram-se de me dar o capital,
o rei vai nu!
a plebe grita, a nobreza finge não reparar, o clero é a merda do costume
e o rei, esse é que se sente mal.
Em todo o seu reinado, o povo nunca foi tão frontal.

E logo agora!
Qual gullliver, sente-se em terra de gigantes,
Duram eternidades, o que deviam ser breves instantes;
e a culpa de tudo, é de quem trocou o tabuleiro do jogo!

Qual batoteiro,
Um verdadeiro trapaceiro,
efectuou uma grande mudança,
"esqueceu-se" do aviso,
mas quem espera sempre alcança,
acredita que não é hoje,
mas amanhã já te digo...

Por hoje fica com o xeque,
mas aguarda que eu te "mate",
nem vais perceber o que te aconteceu,

mal a coisa te pegue,
não vais saber de onde parte,
só vais conseguir dizer quanto doeu.

Por isso
relaxa,
respira,
vais a frente,
tranquila,
já te apanho,
acredita,
se te ganho?
duvida
que te surpreendo
te ensino
e aprendes
quem eu sou
o que faço
o que penso.
Onde vou,
como passo;
por extenso,

te descrevo o que sinto, só te falo, não minto,
do início ao fim, passando pelo meio,
cada esperança, cada receio.
Um delírio de ebriedade, que me afasta da sobriedade,
me aproxima da saudade,
e não me deixa, nem por um bocado.
Me faz ser verdadeiro,
transparente como a mais pura água,
e me faz gritar ao mundo inteiro
o que me passa pela cabeça,
"no que é que este rapaz pensa?!"

Bem, penso muito, não penso nada, penso,
Digo tudo, fico calado, não interessa.

De momento tudo o que vais ouvir é: Foda-se!